segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A Folia vive nesse chão!


E vamos subindo e descendo ladeiras, que para cá, "todo o santo ajuda". Estamos aqui, no Recôncavo Baiano, ao lado, a veia que o Paraguaçu desenhou na rocha. E hoje, escorre lentamente ao aconchego das marés...  Vejam que maravilha os ritmos que vamos distribuindo com a Mala do Folclore. Para nosso deleite vem aí os ritmos Aboio-Toada, Fadinho, Samba de Maculelê.  

Aboio-Toada – “No fim da Toada, tôdas as pessoas da lavoura, homens e mulheres, repetem em berro, demorando muito na segunda palavra: Ei Boi !” (Gonçalo Sampaio, CANCIONEIRO MINHOTO, cap. XXIII).
(...)”Guiam-se as boiadas, indo uns tangedores diante, cantando, para serem desta sorte seguidos do gado”. (Antonil, CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL POR SUAS DROGAS E MINAS, pag. 268, São Paulo, 1923).

“No sertão do Brasil o Aboio é sempre solo, canto individual, entoado livremente. Jamais cantam versos, tangendo gado. O Aboio não é divertimento. É coisa séria, velhissima, respeitada. Aboia-se no mato, para orientar a quem se procura. Aboia-se sentado no mourão da porteira, vendo o gado entrar.Aboia-se guiando o boiadão nas estradas, tarde ou manhã. Serve para o gado sôlto do campo e tambem para o gado curraleiro, vacas de leite, mais em menor escala. Aboiar para vacas de leite não é Aboio para um vaqueiro que se preze e tenha vergonha nas ventas. (Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pag 2, Rio de Janeiro, 1954).

“Sa figure s’illumine, je l’accompagne au parc. Il y entre en sifflant doucement a bouche close, et les boeufs. Qui ont d’abord baissé. Lui s’approche, circule au milleu d’eux, les caresse, les pousse, les fait avancer, touner á son gré, les conduit hors de l’enclos, et le fusil á la bretelle, appuyé sur un des animaux domptés me regarde, victorieux – “ y a paré, mon licutenat”. “Se je ne l’avais vu, je ne l’aurais cru”. (Baratier, EPOPÉES AFRICAINES, pag 95).



Vaqueiros na Caatinga (Caribé )
                               
                                        Inácio da Catingueira

                                       Criado de João Luis,
                                       É doutô, preto, formado
                                       É vigário da matriz
                                       Tanto fala como abóia
                                       Como sustenta o que diz

                                        Por isso é cabra de fama,
                                        Por isso sabe dançar
                                       Por isso eu digo cantando:
                                       Só lá se sabe aboiar !...

(Rodrigues de Carvalho, CANCIONEIRO DO NORTE, pags. 179 e 280, Paraíba, 1929.) 



Fadinho – “Dai a pouco começou o Fado, todos sabem o que o é o Fado, essa dança voluptuosa, tão variada. Que parece filha do mais apurado estudo da arte. Uma simples viola lhe basta, melhor que nenhum outro instrumento. O Fado tem diversas formas, cada qual mais interessante. Ora é uma figura só, homem ou mulher. Que dança no meio da casa por algum tempo, fazendo passos dos mais difíceis. Tomando as mais airosas posições acompanhando-as com estalos de dedos e aproximando-se da pessoa que lhe agrada, diante dela faz-lhe neganças e vira voltas, e finalmente bate palmas, o que quer dizer que a escolheu para substituta. Assim corre a roda toda, até que todos tenham dançado outras vezes dançam juntos um homem e uma mulher seguindo com a maior certeza o compasso da música; ora a passos apressados; depois repetem-se; juntam-se de novo; o homem ás vezes busca a mulher com passo ligeiro a qual, fazendo um pequeno movimento com o corpo e braços, recua vagarosamente; outras vezes é ela quem procura o homem, que recua por seu turno, até que enfim voltam á primeira figura. Há também a roda em que dançam muitas pessoas, interrompendo certos compassos com palmas e em sapateado as vezes brando e breve, porém sempre igual e ritmado. A música é diferente para cada caso, sempre tocada a viola. Muitas vezes o tocador canta em certos compassos uma cantiga de feitura verdadeiramente poética. Quando o fado começa, custa a acabar; termina sempre pela madrugada, quando não leva de enfiada dias e noites seguidas”.
(Manoel Antonio de Almeida, MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILICIAS, cap. VI  
*( 1852 -1853).  



Construindo o nosso mapa passamos pelos Engenhos de Santo Amaro. E aqui, na Cidade de Cachoeira , partiremos para a Estrada Real Estação Villa Velha ( Ramal Feira de Santana ). Enquanto isso apreciem o Samba de Maculelê.



Arquivo de internet
Tia Ciata
                                          

Samba de Maculelê – (...) “Na minha infância convivi com pretos e pretas que me contavam as suas estórias
                     Ouçamos o que dizia a velha Pupu, que viveu mais de cem anos. Ela foi escrava do Engenho Partido.
                      Quando eu era pequena vi lá no Engenho Partido o escravo Ti-Ajou, batendo e tocando o Maculelê. Quando se deu a liberdade eu já era mãe de fio e vó de neto. Cutú só tinha um filho, o Manoel que por ser muito feio era apelidado de Mané Beiçola. Pelas contas feitas o Manuel nasceu em l844 e aos oitos aprendeu Maculelê com Ti-Ajou. Logo as minhas pesquisas iniciam-se no ano de 1852.
                      Temístocles, era um preto que conheci também, foi aluno de Ti-Ajou. O preto João Ferreira dizia: “eu já nasci forro mas aprendi a tocar Maculelê no Partido”.
                       Eis o que me contaram:
                       Na Àfrica os negros lutavam empunhando dois pedaços de paus, que eles chamavam de lelês.
                       A rivalidade era intensa entre os Macuas e os Males estes últimos armavam-se com paus e diziam: “vamos esperar Macuas a lelê”. Disto talvez se origine o nome Maculelê.
                       A expressão “Macuas a lelê” sofreu uma corruptela dando origem a palavra Maculelê.
                       Sabemos que somente em dois engenhos se iniciou o Maculelê: o Engenho São Lourenço de propriedade do Visconde de São Lourenço, cujo proprietário não permitia que os negros usassem cacetes.
                       O Engenho Partido, cujo proprietário era Joaquim Pereira consentiu que a brincadeira fosse praticada na Senzala para disfarçar a luta Ti-Ajou deu música e ritmo ao Maculelê.
                       (...) “Com a intenção de promover a sua defesa e liberdade os negros tiram pedaços de paus nas matas e na Senzala, começando os treinos. Logo foi proibido, pois achavam que iria causar grandes prejuízos e apresentaria perigo para a economia da região e para a pátria.
                        Muito ladino Ti-Ajou achou uma maneira de camuflar, e introduziu a música e a dança. – como brincadeira e dança agradou até ao dono do Engenho que cedeu e consentiu que fosse dançado na Senzala em horas de folga.
                       Foi improvisado um timbale com um tacho furado do Engenho; agogô e chequerê.  A batida dos cacetes ajudavam o ritmo.
                       As Cantigas foram sendo adaptadas. E como o negro em tudo demonstrava a sua fé, saudavam os seus deuses, ou tudo aquilo que merecia o seu respeito e adoração. Ti-Ajou era também pai de terreiro e com tal sabia as normas e rituais do Candomblé “(...).

(Zilda Paim, RELICÁRIO POPULAR, pags. 17 e l9, Bahia, 1999.)
Obrigado a todos e visitem nosso endereço eletrônico: 

Arquivo Particular
Pouso da Palavra  (Cachoeira-Ba).

Atendendo a dezenas de solicitações dos admiradores e colaboradores e do Pouso da Palavra . Já encontra-se à disposição dos amigos, no Pouso da Palavra, as seguintes obras do DUO FOLCLÓRICO Ana Maria & Matias Moreno.


Brasiliana "Folias e Ritmias"
Contendo 11 Cd's.
É o Novo e já  Festejado.
Boa Viagem!





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