domingo, 25 de maio de 2014


Predestinados à Brasiliana



Estamos navegando em direção ao nosso Brasil, viva a Mala do Folclore. Viva os ritmos Samba Baihano, Modinha, Jongo Canção.





Arquivo pessoal



SAMBA BAIHANO – São Braz é o nome de um dos distritos do município de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo. Terra farta de alimentos que o mangue oferece, mas também morada de Sambadores de primeira linha. Um deles é seu João Saturno, mais conhecido como João do Boi desde quando se tornou vaqueiro, além de marisqueiro e agricultor. Mestre de Samba Chula, Seu João do Boi já completou 65 anos. Teve pai Sambador, mãe Sambadeira e quando se juntava com os irmãos, todos Sambadores, “gritava” Samba por horas, dia e noite a dentro. Curioso, é que criança, o pai e a mãe não permitiam que o Mestre fosse para o Samba. “É que dava muita briga no Samba. A gente ia escondido espiar como se gritava e se tocava no Samba... apendemo pela cabeça da gente mesmo”. O Mestre conta que só foi autorizado pelos mais velhos a tocar quando surpreendeu o pai tocando e “gritando” Samba como gente grande. Seu João do Boi diz que no Samba canta o que guardou do pai e dos Sambadores antigos, mas cria muita coisa na hora. Quanto mais Samba, mais se inspira e é capaz de fazer qualquer mulher, mesmo aquela que não sabe Sambar, entrar numa roda. Lamenta, quando diz que antes no São Braz quase todo sábado tinha um Samba, mais agora o pessoal “entrou na lei de crente e o Samba de antes acabou”. Temente a Deus, porem Sambador fiel, Seu João do Boi diz que não reza nem para Santo Antônio. “Se eu rezar, eu num Sambo, meu negócio é Sambar, tenho muita prosa, quero morrer Sambando”. 
(Ari Lima e Katharina Döring, MESTRES DA CHULA, “Região da Chula e da Cana”, Salvador – 2009).



 MODINHA – O “Baiano”, Cantor então muito conhecido através de suas gravações na antiga “Casa Édson”. Á Rua do Ouvidor – Rio de Janeiro, esteve, em l927, nesta cidade acompanhado de sua madame, que se dizia a “Baiana”, também Cantora.
                       Os Maragojipanos gostaram sempre de Poesia, Cantares e Serenatas, de sorte que os “Baianos” foram aqui bem recebidos. Esgotando o seu repertório, bisaram-no depois, com platéias regurgitadas.
                       Conquanto houvesse reiteradas despedidas deles, ficaram ainda em moda, na cidade, meses após meses, suas Canções e Cançonetas, que entusiasmaram o auditório: “Homem de Pulseira”, “A La Garçonne”, “Minha Caixinha”, “Ouvindo as Ondas”, “O Sinal de Bela Iaiá” e outras.
                      Por vezes, recordo-me do velho Marcelino Rocha, que não faltara a um só daqueles espetáculos e, deveras atento á melodia da “Ouvindo as Ondas”, a cada vez cantada no palco pelo “Baiano”, arrematava Marcelino, na platéia, com um suspirado “muito bem”...
                     Há por aqui Seresteiros que, ao luar e aos sons de plangente violão, cantam o seus males, as paixões incontidas, com o pensamento na Dulcinéia indiferente e, talvez, de coração mais frio que o álgido luar de nosso querido agosto.
                    Houve um sui generis, que sozinho fazia suas Serenatas de vitrola. Se não sabia cantar, que por ele cantassem Gastão Formenti, Chico Alves, Vicente Celestino.
                    Certa noite, quando o autor destas linhas morava á Rua de Santana, a atual Barão do Rio Branco, despertaram-no magoados Cantos de Menestrel. Junto lhe ia um companheiro que, soltava com todas as veras da alma, um “bravo” arrastado e solene aos versos mais sentidos! Era um extravasamento nostálgico gemido ao palor da lua! A lua! Que foi sempre a fascinante moeda com que a Noite adquire poesia e murmúrios aos românticos...
                    Conheci um Cancionista que, de surpresa, se apresentava em quase todas as festas da localidade, e quando, á noite, se achava em qualquer esquina da rua quieta, dava largas á sua vocação de Patativa. Era fã de Catulo, o cearense do Maranhão. Chamava-se Durval, o Seresteiro. Quando lhe a voz enrouquecia aos repetidos gorjeios boêmios, degustava um ou dois quiabos, verdinhos, recém colhidos ao arbúsculo e, sarado da rouquice, continuava a sua missão de sonorizar a noite, romantizando o silencio.
                    Também uma das vozes amigas da cidade, era a do Otacílio Marinho, que mantinha pose brejeira á Lovelace. Antes de soltar a voz, tinha os seus modos janotas, a arrumar o laço da gravata colorida, o lenço azul no bolso ao peito, a flor rósea da lapela, o alvo chapéu do Chile. Aprumava-se todo, pigarreava e, afinal, a voz saia, um tanto obrigada, de inicio, e, a seguir, entrava seguro em modulações pedantes.
                    Dizem que uma vez o Otacílio, envergando roupa de brim, teria sido convidado a uma festa em Najé. De logo, todavia, não aceitara o convite, ponderando, então:
                    -  Eu?... Ir a Najé, agora, de roupa de brim? !... Com quem é isso? Não vou. Não vou porque as filhas de Constantino estão lá!
                    O Otacílio não tencionava decepcionar as mocinhas suas admiradoras, simplesmente enfatiotado de brim. Os trajes, os modos, a flor á botoeira, sem dúvida, promoviam deveras a influência pessoal.
                    O inédito, porem, é que, na cidade, se realizou uma Seresta em noite sem lua e de muita chuva.
                    Foi o autor da façanha o Newton Melo, que delirava de paixão por certa moreninha de olhos célicos e fala melíflua.
                   Desentenderam-se os enamorados, e, a desoras, muniu-se ele de sua flauta e rumou á porta da bem-amada. Chovia a cântaros e Newton soprava doces acordes de seu instrumento. Acompanhava-o a chuva tal com um tamborim. A desalmada nem por isso o espiou sequer pela fresta mais exígua de suas janelas. Ria-se, talvez, de sob o cobertor, da triste figura do apaixonado, molhado e aflito, dedilhando no instrumento os gemidos do coração.
                   Vendo-o naquela deplorável situação, ponderou-lhe um amigo:
                 - Não está sentindo a chuva, Newton?... Acaba você saindo daí frio feito um defunto!
                 Mas lhe retrucou o gemebundo flautista:
                 - Ora, você é bobo mesmo... Não vê você então que estou calçado de galochas?!. 
(Osvaldo Sá, MARAGOJIPE HUMORISTICO, “Seresteiros”, cap. XIX, pags. 79 a 81, Salvador – l978). 




Arquivo pessoal
Foto by Ana Maria



JONGO CANÇÃO - Seu Aniceto nasceu 24 anos depois da abolição da escravatura. Fundador do Império Serrano, considerado um dos maiores partideiros do Brasil, usa português castiço e numera suas páginas em algarismos romanos.        
         O que Seu Aniceto - hoje com 72 anos - conta, os pesquisadores confirmam numa bibliografia muito pobre, mas com explicações, argumentos e até justificativas cientificas. O Jongo desenvolveu-se no meio rural; nas fazendas, os escravos cantavam, através de metáforas, geralmente avisando da aproximação do “Sinhô”. Um fazia o solo e os outros respondiam.
         Das manhas e tarde nos cafezais e canaviais, o Jongo passou para as noites, nos terreiros. Mas, para que isso fosse possível, os negros “mandigavam”, pediam ajuda a seus mortos para que na Casa-Grande todos caíssem em sono profundo. Depois agradeciam, cantando e dançando. Mas só ate o sol raiar, sem ninguém interromper.
         O Jongo pertence às Almas Santas e Benditas. É religioso e perigoso. O Jongo mata, diz Seu Aniceto, guardando até hoje o respeito ás crenças, e misticismo de seus antepassados. Para ele, o Jongo só pode começar à meia- noite, com velas e oferendas (bebida e comida) a Exu e as Almas, num Terreiro com uma fogueira no meio. “Os Jongueiros vestidos de roupa branca de alva (cores claras) devem estar de pés descalços, em contato com a terra”, “a fonte de tecido e quem nos espera para acolher”, como sinal de respeito,” porque criança é irresponsável”, e os leigos devem ficar de fora.
Leigo - diz Seu Aniceto- Só entra no Jongo por Petulância, Audácia ou Ignorância. Assegura Seu Aniceto que em seu tempo já não havia escravos. Não era mais preciso conversar através de metáforas, nem de “mandigar” para os senhores dormirem profundamente, como que enfeitiçados. Mas as Almas continuavam a ser louvadas, solicitadas e agradecidas. Elas eram os Pretos Velhos e escravos depois de muito sofrimento. A elas, toda devoção e respeito dos sobreviventes.
         E no inicio do século, não havia dia santo em que a comunidade negra não se reunisse para Jongar. O Jongo maior era sempre no dia 13 de maio, comemoração da abolição. Ao mesmo tempo em que se distraiam cantando e dançando, louvavam as Almas.
        Á meia-noite começava o Jongo, num terreiro ou fundo de quintal iluminado por uma fogueira e talões de bambu e querosene. Os Jongueiros de roupa branca ou alva e pés descalços. Lá estavam as velas pra as Almas e a bebida e comida delas e de Exu. Antes do primeiro Canto, a saudação do dono da casa e o toque de três tambores: Caxambu, Candongueira e Angomapita. Assim, tudo acontecia nas primeiras décadas do séc XX.
         Alguém começava um Ponto, uma musica. Como no tempo dos escravos. A letra era toda em metáforas. Em vez de conversa, tinha tom de Desafio. O Solista ia cantando seu improviso ate que o outro Jongueiro descobrisse o que ele estava dizendo, ou seja, desamarrasse o ponto em linguagem de Jongo. E para responder gritava:” machado” ou “cachoeira” as duas palavras que terminavam um ponto. Respondia ao Solista e começava um outro canto.
         Na roda, girando em volta da fogueira, no sentido contrario ao dos ponteiros do relógio o que pra os cientistas significava a volta do passado os outro Jongueiros dançavam com amplos movimentos do corpo. Um homem ou uma mulher ia para o centro da roda e começava a evoluir, geralmente em frente a alguém de sexo oposto convidando para a dança. O casal fazia então uma espécie de disputa de passos um querendo sobressair-se ao outro e em dado momento se aproximavam como que dando uma Umbigada.
         Mas esse Jongo não era só Canto e Dança. Os Jongueiros formavam uma comunidade, onde todos se conheciam e se respeitavam. E, no desafio dos Pontos, “amarrar alguém” podia ser uma espécie de agressão. Seu Aniceto conta muitas histórias de gente que ficou como enfeitiçada por causa do Jongo. Uma delas é a de um rapaz, na roça, que não ouviu os conselhos do pai e foi Jongar. Dias antes, o pai amarra, numa roda de Jongo, dois velhinhos muito amigos. E naquele dia, o rapaz, seguindo o som do Candongueiro, foi parar justamente numa roda onde estavam os dois velhinhos. Antes de sair de casa o ai já previra o que ia acontecer e prevenira o filho: “Se você Jongar você morre”, conta Seu Aniceto na linguagem de caboclo.
E depois de muito Jongar na roda dos velhinhos o rapaz saiu andando de quatro, arrancando grama com a boca, até cegar na estrada e cair. De madrugada, quando ainda escuro, os roteiros saíram para apanhar água  na fonte e trabalhar, deram com o rapaz e avisaram o pai. Este respondeu que já sabia, mas não saiu de casa enquanto o sol não raiou. Quando isto aconteceu, se aproximou do filho e disse:
 “-Levanta muleque e toma bença a seu pai.”
         O rapaz obedeceu e ainda ouviu: “Eu num falei cum susê?” E Seu Aniceto explica: “È que o pai não dormiu a noite toda, segurando a peteca. Por isso, ele não sucumbiu.”
         Para Seu Aniceto, o Jongo ainda é o mesmo do inicio do século. Ele não aceita, não acha correto chamá-lo também de Caxambu, como é mais conhecido no interior de Minas. Hoje em dia, inclusive,alguns Jongueiros e Estudiosos distinguem uma coisa da outra, chamando de Caxambu ao lado folclórico de dança e musica de Jongo, sem a religiosidade e misticismo. 
(João Batista Vargens, NOTAS MUSICAIS CARIOCAS, Valeria Fernandes, “O Jongo no Rio de Ontem e Hoje”, Petrópolis 1986).

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domingo, 18 de maio de 2014

Momentos de Silêncio...

Com todo o respeito aos nossos acompanhantes, nessa viagem, pela Música Folclórica Brasileira. Permita-nos o silêncio encantador que esta viagem nos proporciona, e que a Mala do Folclore não deixa de surpreender. Embala-nos agora os ritmos Canção-Caipira, Chula e Toada. Boa Viagem Amigos! .

arquivo pessoal


Ficha Técnica :

Ao Canto e Afoxé : Ana Maria
Ao Canto e Violão : Matias Moreno
Autor e Compositor : Matias Moreno

Viola e Violão Bordão : Ian Ferreira
Percussão e Ritmo : Bidio
Violino : Mateus Costa
Bandolim : Robertinho Lago
Cavaquinho e Ritmo : Pedro Patrocinio
Pandeiro : Breno Tsocas
Curumim : Filipe Costa

Mixagem e Gravação : Pedro Patrocínio
Capa : Mateus Costa
Foto : André Simões



CANÇÃO-CAIPIRA –(“...)” Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles. Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado.
             E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de
prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima. E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.
           E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. Elevaram dali. (...) Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus. Se lhes a gente acenava, se queriam vir às naus, aprontavam-se logo para isso, de modo tal, que se os convidáramos a todos, todos vieram “(...).
(Pero Vaz de Caminha, CARTA A EL-REI DOM MANOEL, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. deste Porto Seguro, de Vossa Ilha de Vera Cruz).



CHULA – Em Tocos, um esquecido povoado pertencente ao município de Antonio Cardoso, vizinho da cidade de Feira de Santana. No Agreste, quem é de Samba, do Candomblé, quem reza para Santo Antonio, São Cosme ou Santa Barbara conhece Luisa Pereira Brandão. Com quase 80 anos como Dona Zinhá. Além disso, Dona Zinha é uma Parteira respeitada, “Mãe de Embigo” de muita gente de Tocos, que vive em casa rodeada por animais domésticos. Desconfiada, ela fala pouco, ao mesmo tempo em que, numa conversa entrecortada, comenta sua vida pessoal, fala do seu apego e das manias de seus bichos de estimação, revela uma coisa ou outra que sabe do Samba e do Candomblé.
                        Para Dona Zinha, o Samba veio com os Africanos mais antigo, escravizados. Eles teriam deixado de herança o “Samba Nagô” tocado nos Terreiros com tambor, o “Samba Brasileiro” ou de “Pandeiro em Pé”, tocado nas palmas, no pandeiro e viola,”é o Corrido, a Chula, o Côco”. Além de um vasto repertório de Chulas, Relativos, Corridos e Rezas, Dona Zinha pega firme no tambor e no pandeiro.
                        Uma das especialidades é o “Licutixo”, uma modalidade poética do Samba desta região que consiste na arte de cantar uma série de versos curtos, ritmados e muito ligeiros, contando uma pequena historia que deveria terminar com desfecho inesperado ou engraçado.
(Ari Lima e Katharina Döring, MESTRES DA CHULA, “Região do Semi-Árido”, Salvador-2009).




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Tarsila do Amaral


TOADA - Numa das vezes em que estive em Linhares – lá pelo mês de junho de 1943 – conheci o canoeiro Ubaldo Costa Porto, pequeno de corpo, cabelo preto “escorrido”, tipo comum do caboclo do meu rio Doce. E foi durante a travessia de canoa que o Ubaldo se revelou precioso homem-folk, conversador e contador sem meias palavras. Dele então consegui recolher – com o pouco de papel de notas de que dispunha – uma série de Trovas Populares, três Toadas curiosas e mais uma do cangaceiro “Cirino”, duas “Rodas Pontiadas” e algumas Sextilhas.
Vamos ver aqui, por ora, apenas as Cantigas e a Roda Pontiada, valioso material que o velho canoeiro (já falecido) nos deu, ao som dos remos que cortavam as águas do grande rio.
Nas Toadas cantam-se Trovas Soltas, a elas acrescentando-se um dístico que se repete no final das quadras, à Moda de refrão ou estribilho. Assim:

Eu bem falei com você
Que não panhasse sereno.
Você temô, apanhô,
Agora ‘stá padeceno.
Eu pudesse te levava
Pra minha terra, moreeeeena.

Arruda também se muda
De longe para o deserto.
De longe também se ama
Quem não pode amá de perto.
Eu pudesse te levava
Pra minha terra, moreeeeena.

Às vezes – como nesta outra Toada – ela forma inicialmente um todo em sextilha:

O cavalo da Chiquinha
Tem um andá por natureza:
Uma mão pisa firme,
A otra não tem firmeza,
O cavalo da Chiquinha
É o suco da beleza!

A seguir, encaixa-se a Trova, servindo de estribilho os dois versos finais anteriores:

Tô cantando e tô chorando
Regalo que não mereço.
Se eu canto é porque quero,
Chorando porque padeço.
O cavalo da Chiquinha
É o suco da beleza!

Da mesma forma, esta outra Toada:

Hoje foi que eu soube
Que Rosa vai se mudá.
Eu sem a Rosa não fico
Morando neste lugá.
Adeus, Rosa branca,
Que eu quero te namorá…

Lenço branco – apartamento,
Digo isso é porque sei:
Já me vi apartado
Pelo um lenço branco que dei.
Adeus, Rosa branca,
Que eu quero te namorá…

Quanto à denominação dessas Cantigas, o próprio Ubaldo nos disse que eram Toadas, o que coincide com o que, sobre o assunto, nos informa Oneyda Alvarenga: a Toada é
empregada mais no sentido genérico, corrente na língua (o mesmo de Moda), ou como designação de qualquer canto sem destinação imediata. De qualquer modo parece que a Toada não tem características fixas que irmanem todas as suas manifestações. O que se poderá dizer para defini-la é apenas o seguinte: com raras exceções, seus textos são curtos – amorosos, líricos, cômicos – e fogem à forma romanceada, sendo formalmente de estrofe e refrão.
Musicalmente – continua a folc-musicista de São Paulo, “as Toadas do Centro e Sul se irmanam pela melódica simples (...), por um ar muito igual de melancolia dolente” (Música Popular Brasileira, 1950, p. 256).
Lembro-me vagamente da melodia das Toadas do velho Ubaldo, mas guardo ainda o seu tom dolente e triste, aliás expresso pela reiteração das vogais em fim de verso.
Roda Pontiada – disse-me o canoeiro do rio Doce – é assim chamada porque tocada na viola com a ponta do dedo. E o exemplo que me deu, então, foi este:

Eu não como,
Eu não bebo,
Eu não durmo.
Iaiá,
Somente só imaginá – ei!
Mas vô dexá de ciúme
Pra vivê sossegado – uai!…
Adeus, pancadão da soidade,
Iaiá,
Eu vô mudá desse lugá – ei!…

A distribuição e encadeamento desses versos simples me fazem lembrar a explicação que Anicondes – poeta caboclo de Goiás – deu ao folclorista José A. Teixeira. À pergunta: “Como é que você compõe a Moda?” – respondeu o vate popular: “A gente inventa ca viola. Repinica nela e vai cantanu, siguinu a musga, consoante o assunto dá. O dispois, repete até firmá…”
Assim me pareceram esses versos do velho Ubaldo – homem-folk do meu rio Doce, infelizmente falecido. Com ele lá se extinguiu preciosa fonte de informações, perdidas para sempre.
(Guilherme Santos Neves, TOADAS E CANTIGAS DO RIO DOCE, A Gazeta, 17.07.1960 - Vitoria do Espírito Santo.)



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domingo, 11 de maio de 2014

BOA VIAGEM para todos!




arquivo particular


BATUQUE – “A luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez. Estes, dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Havia golpes interessantíssimos, como a Encruzilhada, em que o atacante atirava as duas pernas contra as pernas do adversário, a Coxa Lisa, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma Raspa. E ainda como o Baú, quando as duas coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar em pé, sem cair. Se. Perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido, irremediavelmente, a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os Batuqueiros em Banda Solta, isto é equilibrados numa única perna. A outra no ar, tentando voltar á posição primitiva”. 
(Édison Carneiro, NEGROS BANTOS, Cap. X, pags. 164, Rio de Janeiro – 1937).





BANZABÊ – Todos os Cronistas Coloniais descrevem o Bailado Indígena em círculos, com pancadas de pé, e Canto. Nas Danças Secretas, preparatórias para a guerras ou grandes expedições de colheita, os Pagês, Feiticeiros religiosos, ficavam no meio do círculo de Dançarinos emplumados, e iam soprando baforadas de tabaco, aroma excitador, hálito de deuses animadores. Não tivemos documentos de uma Dança solista do Page, Dança-Oração, cada atitude expressando súplica, dentro dos ritmos dedicados á divindade. 
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pags. 226, Rio de Janeiro – 1954).





BANZABÊ - O Cantor principal carregava um bastão no qual havia um chocalho de pequi amarrado, que era percutido no chão durante toda a performance, fornecendo o pulso rítmico das músicas. Em algumas sessões um dos ajudantes também trazia um bastão de ritmo. Ao entrarem nas casas, posicionavam-se em “linha” de frente para a porta principal da casa (a que está voltada para o centro da aldeia). 
(Maria Ignez Cruz Mello, MÚSICA E MITO ENTRE OS WAUJA DO ALTO XINGU, pags.116, Florianópolis – 1999).





Foto by Ana Maria




SAMBA DE TERNO – (...) ”Na Bahia, os Presepes, os Bailes de Pastoras e os decantes de Reis, prolongam-se até o Carnaval. – È o tempo das mangas, das músicas e das mulatas!
                                     Dessa noite em diante, os Cantadores de Reis percorrem a cidade cantando verso de memória e de longa data.
                                     Esses Ranchos compõem de moças e rapazes de distinção; de negros e pardos que se extremam, ás vezes, e se confundem comumente.
                                     Os trajes são simples e iguais: calça, paletó e colete branco, chapéu de palha ornado de fitas estreitas e compridas, muitas flores em torno, etc,; as moças, de vestido bem feitos e alvos, de chapéus de pastoras; precedendo-os na excursão habilíssimos tocadores de Serenatas.
                                      Levando-lhes talves vantagem pelas ondulações do andar, pelo arredondado das formas lascivas. Pelos dentes de pérolas em bocas de ônix, ou orvalhos matinais nas rosas do amanhecer, as crioulas e mulatas acompanham os seus pares, tremendo-lhes o seio por baixo de um nevoeiro de rendas finíssimas, estalando a chinelinha preta e lustrosa, atirando com negligência o pano da costa, matizado e caríssimo.
                                      Mulheres e homens, meninos e meninas, batem ao compasso da música. Leves pandeiros, ou tocam, nas mãos entreabertas e suspensas, castanholas que atroam.
                                      Destoando do concerto magnífico, lá cresce o Rancho dos Bucumbis, que são negros e negras vestidos de penas, rosnado Toadas Africanas, e fazendo bárbaro rumor com seus instrumentos rudes.
                                     Dos Bucumbis não sabemos o rumo.
                                     Os Ranchos, ao fogo dos archotes, ao som das frautas e violões, dos cavaquinhos e pandeiros, das Cantorias e castanholas dirigem-se ao Presepe da Lapinha, as casas conhecidas em que se festeja o natal, ou tiram Reis á aventura do acaso.
                                     A partir das oito horas começam a desfilar os primeiros Bandos. Embora prevenidas, ás casas que os têm de receber conservam a porta fechada, não obstante os Dramas Pastoris e as Danças estarem em atividade.
                                     Chegando um deles ao ponto convencionado, á casa em que deve entrar, a música preludia o Canto, que rompe seguido de coros:
                                    
                                     Ò de casa, nobre gente
                                     Escutai e ouvireis,
                                     Lá das bandas do oriente
                                     São chegados os três reis. (...)

                                     Depois destas e de muitas outras Trovas Clássicas, a porta abre-se, o Rancho entra, e chegando ao Presepe, entoa novas Canções e novos acompanhamentos:

                                     Bravo, bravo, bravo !
                                     Hoje é quem brilha,
                                     O verbo humanado
                                     Deus de maravilha.

                                     E ficam ou seguem, depois de comer e beber do que se lhes oferece...(...).
(Melo Morais Filho, FESTAS E TRADIÇÕES POPULARES DO BRASIL, pags. 75 a 77, Rio de Janeiro – l946).

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segunda-feira, 5 de maio de 2014

DESEJAMOS BOA VIAGEM !

Boa Viagem amigos! estamos chegando lá. A Mala do Folclore deixa saudades,  brinda e apresenta os ritmos Terno, Afoxé e Samba-Chula.



arquivo particular
Foto by Ana Maria


TERNO - "O Terno das Almas é uma manifestação que ocorre durante o período da quaresma e trata-se de um ritual realizado pelas mulheres, em sua maioria, que se cobrem com um lençol branco e a noite percorrem as trilhas e becos do povoado para cantarem seus mortos. É utilizado um instrumento percussivo de madeira chamado Matraca que tem a função de acordar os mortos para que ouçam os Benditos que são cantados. O Terno sai as ruas nas segundas, quartas e sextas feiras e fazem três estações em locais diversos do povoado. Alí eles cantam e rezam. Durante 23 anos o Terno das Almas tinha desaparecido das manifestações locais, sendo resgatado a partir do ano de 2003 quando propus de ex devotos se reunissem para reativá-lo, caso fosse o desejo daquelas pessoas, o que prontamente aconteceu." 
(Marcos Zacaríades, TERNO DAS ALMAS, Igatú – Bahia.)



TERNO – (...) Nos lugares onde não havia oratórios de pedra, via-se, como ainda hoje, cruzes em alto-relevo ao longo dos muros, pintados de preto no exterior das casas particulares e nas portarias de velhas igrejas, ou então cruzeiros de granito ou de madeira, no centro das praças, nas encruzilhadas dos caminhos á distancia, nas estradas e ruas...
                 O que significava eles no silencio estrelado da noite, nas solidões a desoras, dominando misteriosos na maravilha do vácuo?
                  Eram as Cruzes das Almas; o aprisco lúgubre dos penitentes da meia noite; o ponto de partida das Serenatas horríveis, cujos ecos iriam minorar os suplícios do fogo purificador.
                  Invariavelmente pela Quaresma celebrava-se o rito popular das Encomendações, obrigadas á música, acompanhadas de solos e coros.
                  Dizem mesmo que para esses atos, compositores afamados concorriam com produções geniais, intercaladas de frases que imitavam soluços, enriquecidas de transições mal sentidas, de menos para maior, cujo efeito não podia ser mais plangente e infernal.
                  Às sextas-feiras, ao pingo da meia-noite, quando as cidades e povoados estavam ermos quando os lobisomens, as caiporas e as mulas-sem-cabeça corriam o fado, soava nos ares o troar da matraca e o badalar da campa sinistra, que anunciavam o préstito em movimento.
                  De repente, ao afinar derradeiro dos instrumentos percebia-se bem longe – à porta das igrejas, ou lugar convencionado para a reunião – vultos amortalhados de branco, com a cabeça coberta, deixando apenas ver a boca e os olhos, esclarecidos por pequenas lanternas de papel ou folha-de-flandres, com a luz voltada para o rosto.
                   Alguns, muitos mesmo tocadores de flauta, violoncelo, rabecas, etc., juntava-se aos Cantores, que os alumiavam, desenrolando músicas escritas.
                    A um momento dado, findos os preparos os Encomendadores das Almas desciam lentos de sua soturna estância; e, rompendo a marcha, a campanhia vibrava metálica, a matraca batia, a procissão desfilava, tétrica, pavorosa e de fazer arrepiar os cabelos.
                    Constava da tradição que só homens podiam tomar parte nessas romarias em favor dos condenados de além-túmulo; sendo proibido, sob pena de morrerem assombradas, as mulheres e crianças, afrontar o preceito lendário.
                     E a Serenata da morte, escoltada de supertições e de duendes, começava os seu noturnos as suas Capelas cantadas, prolongando-se até mais de uma hora, fazendo estações aqui e ali, difundindo o pavor e o medo em seu trânsito incerto e cheio de assombro.
                    Adiante, vagaroso, cadenciado, de cabeça erguida, o portador da Cruz das Almas seguia imperturbável, entre dois indivíduos cabisbaixos, envergando idênticas vestiduras e amparando as luzes das velas metidas em cartuchos de papel: logo após o homem da campainha, tangendo-a compassadamente, sacudia ao vento a manga ondulante de sua túnica de morim, que recebia nas trevas o reflexo rubro das lanternas acesas...
                   E a procissão passava!... passava!...
                   Sendo da crença popular que ninguém podia abrir as janelas e as portas para ver a tétrica Passeata, pois que além de cometer gravíssimo pecado, morria de medo, visto como as almas faziam parte da comitiva, a solidão estendia-se em seu trânsito e circulava o ambiente envolto em trevas medrosas e profundas.
                   Aos fantásticos personagens que iniciavam o préstito, sucedia um outro que entoava com voz cavernosa, lúgubre e com que saída de um túmulo, as Lamentações do estilo, admiráveis trechos musicais dos Compositores da terra.
                   Depois vinha o resto – os devotos menestréis das almas, envoltos em suas roupagens de neve, com buracos para os olhos e a boca.
                   E a matraca, batida, troava... a campa, agitada com violência, formava uma abòbada funebremente sonora 
                   De escutá-las as crianças e as mulheres, os moradores das casas vizinhas e longínquas, despertavam: ouvia-se choro, preces, rumores...
                   E a procissão passava!... passava!...
                   Eis senão quando a matraca e a sineta emudeciam, os tropéis aquietavam-se, e o silêncio crescia mais taciturno e misterioso...
                   Um vulto tomava a frente; no mesmo instante, os instrumentos davam afinação tocavam á surdina; e o violoncelo, por exemplo começando a Capela noturna, gemia sob os dedos inspirados do artista, soluçava dolorosamente, produzindo sons despedaçadores.
                   E aquela espécie de alma penada, aquele indivíduo isolado dos seus companheiros – o Baixo-Profundo - , entoava silábica e monotonamente a cruel e pavorosa Lamentação:
                   “Pe-ca-dor-em-du-re-ci-do!!...”
                    A impressão que isto produzia era horrível; não pode imaginar o efeito sobrenatural dessas composições especiais sobre espíritos fracos e de credulidade exagerada.
                    Depois os demais músicos acercavam-se da figura principal e, seguindo, bradava um Cantor:
                    “Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos presos da cadeia!...”
                    E todos rezavam cantando, na persuasão de que os ouvintes, encerrados em suas casas, o faziam também.
                    “Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos afogados!...”, prosseguia um outro, apenas terminava a reza, e assim por diante...
                    Em caminho, sucedia reunirem-se a estes, penitentes que surdiam daqui e dacolá, vestidos de saias de mulher, coroados de espinhos e com as costas nuas, sobre a quais faziam vibrar férreas disciplinas, acoitando-se á sangue.
                    E a procissão passava!... passava!...
                    Junto a um oratório aceso ou Cruzes de Almas, o préstito fazia alto, espevitavam-se as velas das lanternas esbraseadas, e as Lamentações, os Padre-Nossos, Ave Marias e Salve-Rainhas eram de novo cantados, em tons fúnebres e pesados com o estouro das vagas nas praias desertas.
                    Este espetáculo terrível, que impedia de respirar livremente, que povoava de sobressalto e terrores os sonhos infantis e a crendice popular, findava sempre aos primeiros cantos do galo...(...). 
(Melo Morais Filho, FESTAS E TRADIÇÕES POPULARES DO BRASIL, pags. 193 a 197, Rio de Janeiro-1946).



AFOXÉ - O primeiro Grupo de Afoxé surgiu em 1895 em Salvador, mostrou publicamente aspectos dos ritos do Candomblé. Em 1897, outro grupo saiu as ruas com o Enredo “As Cortes de Oxalá”. Em 1922 já estruturado e participando do Carnaval, veio a temática dos Orixás, encontramos então o Afoxé Papai da Folia. Ainda em 1897 “Clube Pândegas de Àfrica” e os africanos com muita alegria dançando, tocando e cantando tomaram conta das ruas e assim externou, os clubes vistosamente se apresentavam, recolhendo aplausos e saudações dos seus adeptos numerosos. A Embaixada Africana e os Pândegos de África, já apreciados do nosso público, porquanto desde uns três anos disputavam-se a palma nessas festas. Depois só voltaram a sair em 1929 e o jornal A Tarde, de 9 de fevereiro daquele ano relata a sua volta: ”Abrira o préstito uma grande filarmônica trajada a caráter exercitando seus clarins e fanfarras as mais típicas marchas Africanas”. Outros grupos de Afoxé, como Otum Oba de África, Congo de África mantiveram a força dos costumes lúdicos negro-africanos na Bahia. No Rio de Janeiro, aos 12 de agosto de 1951 é instalado o Afoxé Filhos de Gandhi/RJ. Esta agremiação está baseada na vivência dos seus fundadores em outros grupos de Afoxés: Pândegos de África, Otum Obá de África, Papai da Folia, Congo de África e o próprio Filhos de Gandhi de Salvador deram os subsídios e os fundamentos do grupo carioca, que representa no Carnaval do Rio de Janeiro as mais significativas lembranças dos costumes Afro-Baianos. Afoxé Olodumaré, surgiu no interior do Terreiro Nosso Senhor do Bonfim, verdadeira sede do Afoxé. Sai no domingo, segunda e terça-feira. Segunda-feira dia consagrado a Exu. Ele é o patrono deste Afoxé. Afoxé no Ceará ligado aos Maracatu Reis de Paus e ao terreiro de Candomblé Nosso Senhor Do Bonfim, ritos Gêge e Nagô. Filhos de Gandhi, Salvador e Rio de Janeiro: há diferenças acentuadas observadas nesses dois grupos de Afoxé. Cada um passou assumir uma personalidade própria apesar dos fortes elos que unem ambos Afoxés. O de Salvador, o patrono é Xangô por isso dança com uma frigideira em chamas apoiada na cabeça ao toque de Alujá. Foi fundado em 1949. O Gandhi do Rio, o Gexá é ouvido. Cantam para os Orixás. Desfilam no sábado.Um outro Afoxé surgiu há 30 anos em São Paulo fundado pelo Ogan Gilberto de Esú e Iá Wanda e amigos ligados a família, é o Afoxé Omo Coroa de Dada, Casa Verde, São Paulo, e no Carnaval de 1977 fez sua 1ª apresentação no Carnaval nas ruas do bairro, hoje faz a abertura oficial do Carnaval Paulista e está há 26 anos no Sambódromo. Hoje em dia encontramos um grande número de Afoxés que divulgam e resgatam a cultura Afro-Brasileira, abrilhantando os Carnavais de diversas cidades com muita alegria e energia positiva, preservando assim a Cultura Afro-Brasileira. 
O QUE É AFOXE ?- Afoxé é um Cortejo de rua que tradicionalmente sai nas ruas durante o Carnaval de Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo e demais localidades. Esta manifestação tem aspecto místico, mágico e por conseguinte, religioso. Em 1895, em Salvador o primeiro Afoxé mostrou publicamente aspectos dos ritos do Candomblé. Antes se falava no Maracatu, não existia o Afoxé propriamente dito, e o Cortejo era chamado de Afoxé de África. Por isso também é conhecido e era chamado por Candomblé de rua, hoje se fala em Afoxé: grupo Afro-Brasileiro Folclórico cultural, carnavalesco de origem afro-descendente (Africana) oriundo do Candomblé no Brasil. Apresenta em seu contexto elementos ligados a religiosidade dos africanos aqui no Brasil. Para estes adeptos é quase uma obrigação levar este Axé (energia positiva) para o conhecimento do público e para locais onde desenvolve-se a Cultura com ou sem vínculo com a religiosidade. Os enredos têm fundamentos das religiões negras no Brasil, enredos esses vindos das estórias, explicam e instruem sobre os Orixás, seus domínios e funções.Todo grupo de Afoxé tem suas cores e patronos. Os instrumentos básicos do Afoxé são: Xequerês, Maracás, Atabaques e Agogôs, todos tocados no ritmo Ijexá. Afoxé também é o nome de um instrumento que se constitui de uma cabaça (fruto vegetal) coberta por rede contendo sementes ou contas. Os instrumentos mais antigos eram feitos com redes de algodão, contendo búzios nos encontros do traçado. O Afoxé passou por modificações, quanto a forma do instrumento e maneira de percutir. Tradicionalmente o Afoxé é percutido agitando o que fricciona no corpo da cabaça, assim produzindo os ritmos. Com o advento do cabo preso na cabaça, a fricção passou a ser realizada na palma da mão do instrumentista. Além da festividade carnavalesca, o Afoxé tem o compromisso de resgatar e divulgar a Cultura Afro-Brasileira, levando á comunidade informações culturais e a oportunidade de conhecer suas raízes. 
OBJETIVOS DO AFOXÉ - O Objetivo do Afoxé é levar o Asè (Energia Positiva) para o conhecimento do público e para locais onde se desenvolve a Cultura com ou sem vínculo com a religiosidade. O Afoxé Niza Nganga Njungo de Juiz de Fora - MG, possui um Grupo Gestor independente e soberano, formado por pessoas idôneas e radicadas em nossa cidade, cuja função prioritária é dar vida e consistência às atividades culturais, visando a convivência e conscientização comunitária, buscando diminuir a exclusão sócio cultural através de palestras, oficinas arte educativas, ensaios e apresentações públicas integrando todos membros da comunidade. A colaboração com a Cultura vai além de sua existência como Bloco. Desta forma articulamos ao longo do ano, palestras, oficinas, apresentações e rodas de bate papo para levarmos mais informações da Cultura Afro (Afoxé) à Sociedade. 
(Jaques “Tata Axexerê”, AFOXÉ NIZA NGANG NJUNGO, Juiz de Fora – MG.).


AFOXÉ – Rancho negro do carnaval. Os negros se trajam principescamente e cantam Canções em língua africana, geralmente em Nagô. O mais notável desses Ranchos é o Otum, Obá de África, com sede no Garcia. Têrmo ás vêzes empregado para designar Candomblés de qualidade inferior.(Edison Carneiro, CANDOMBLES DA BAHIA, 115-116, Bahia, 1948). 
Festas profanas de caráter público, nos Terreiros do culto Jeje-Nagô. 
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pags.17, Rio de Janeiro – l954).



imagem da internet
Carybé







SAMBA-CHULA – No Samba de Roda, existem muitas variações sobre as Cantigas, que possuem nomes diferentes a depender do local. Na Ilha, em Salvador e municípios próximos, predomina o Samba Corrido, e as influências urbanas. O Samba Chula característico, também chamado Samba de Viola e Samba Amarrado, se encontra na antiga região da cana que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo Amaro. Uma dupla de cantadores canta a Chula e a outra dupla e o coro das mulheres responde com o Relativo, sendo um verso menor que “arremata” a Chula. Nessa hora, ninguém entra na roda para sambar, esperando os homens terminar de cantar e começar a parte instrumental com solos de viola e da percussão. A sambadeira agora samba com passos miudinhos, “peneirando” e percorrendo a roda toda, até dar uma umbigada para outra sambadeira, que espera até a próxima Chula cantada.
                     As Chulas são miniaturas poéticas que tratam dos assuntos da vida, contando pequenas histórias, relatando conflitos e as complicações da paixão, retratando aspectos do cotidiano e dando conselhos, alertas e “sotaques” para quem precisa ouvir. Os grandes temas cantados são ligados ao universo amoroso, ressaltando a visão do homem sobre a mulher, falam do próprio Samba, dos acontecimentos na roda e da viola, por estabelecer uma ligação forte entre os homens tocando e as mulheres sambando. Muitas Chulas retratam a vida do trabalho, na roça, na cana, no mar e no mangue, ás vezes com uma conotação do sofrimento do “penar” que remete aos tempos da escravatura. Um contraste para o lado pesado da vida, são as Chulas lúdicas e eróticas, contando piadas e conselhos irônicos, pequenas parábolas, satirizando situações sensuais e tragicômicas da vida. Outro aspecto é a vida religiosa nas Chulas que cantam dos santos católicos, dos orixás e caboclos nas religiões afro-brasileiras, muitas vezes falando em metáforas.
                     Na outra margem do Rio Paraguaçu, nos municípios de Antonio Cardoso, Santo Estevão e Rafael Jambeiro, a Chula é chamada de Coco e o Corrido chamado de Chula. O Samba se caracteriza por ser um Samba de Desafio, cheio de riquezas poéticas que retratam o universo regional com sutileza, humor e variedade literária. Entre os sambadores antigos, Samba é coisa séria, assunto de homens brabos que se desafiam com palavras afiadas e ritmadas, levando noites inteiras nessas disputas que renderam muitas lendas em toda região. 

(Katharina Döring, “A CHULA NO SAMBA DO RECÕNCAVO”, notas da contra-capa do CD e DVD, CANTADOR DE CHULA, Salvador – 2009). 

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