segunda-feira, 5 de maio de 2014

DESEJAMOS BOA VIAGEM !

Boa Viagem amigos! estamos chegando lá. A Mala do Folclore deixa saudades,  brinda e apresenta os ritmos Terno, Afoxé e Samba-Chula.



arquivo particular
Foto by Ana Maria


TERNO - "O Terno das Almas é uma manifestação que ocorre durante o período da quaresma e trata-se de um ritual realizado pelas mulheres, em sua maioria, que se cobrem com um lençol branco e a noite percorrem as trilhas e becos do povoado para cantarem seus mortos. É utilizado um instrumento percussivo de madeira chamado Matraca que tem a função de acordar os mortos para que ouçam os Benditos que são cantados. O Terno sai as ruas nas segundas, quartas e sextas feiras e fazem três estações em locais diversos do povoado. Alí eles cantam e rezam. Durante 23 anos o Terno das Almas tinha desaparecido das manifestações locais, sendo resgatado a partir do ano de 2003 quando propus de ex devotos se reunissem para reativá-lo, caso fosse o desejo daquelas pessoas, o que prontamente aconteceu." 
(Marcos Zacaríades, TERNO DAS ALMAS, Igatú – Bahia.)



TERNO – (...) Nos lugares onde não havia oratórios de pedra, via-se, como ainda hoje, cruzes em alto-relevo ao longo dos muros, pintados de preto no exterior das casas particulares e nas portarias de velhas igrejas, ou então cruzeiros de granito ou de madeira, no centro das praças, nas encruzilhadas dos caminhos á distancia, nas estradas e ruas...
                 O que significava eles no silencio estrelado da noite, nas solidões a desoras, dominando misteriosos na maravilha do vácuo?
                  Eram as Cruzes das Almas; o aprisco lúgubre dos penitentes da meia noite; o ponto de partida das Serenatas horríveis, cujos ecos iriam minorar os suplícios do fogo purificador.
                  Invariavelmente pela Quaresma celebrava-se o rito popular das Encomendações, obrigadas á música, acompanhadas de solos e coros.
                  Dizem mesmo que para esses atos, compositores afamados concorriam com produções geniais, intercaladas de frases que imitavam soluços, enriquecidas de transições mal sentidas, de menos para maior, cujo efeito não podia ser mais plangente e infernal.
                  Às sextas-feiras, ao pingo da meia-noite, quando as cidades e povoados estavam ermos quando os lobisomens, as caiporas e as mulas-sem-cabeça corriam o fado, soava nos ares o troar da matraca e o badalar da campa sinistra, que anunciavam o préstito em movimento.
                  De repente, ao afinar derradeiro dos instrumentos percebia-se bem longe – à porta das igrejas, ou lugar convencionado para a reunião – vultos amortalhados de branco, com a cabeça coberta, deixando apenas ver a boca e os olhos, esclarecidos por pequenas lanternas de papel ou folha-de-flandres, com a luz voltada para o rosto.
                   Alguns, muitos mesmo tocadores de flauta, violoncelo, rabecas, etc., juntava-se aos Cantores, que os alumiavam, desenrolando músicas escritas.
                    A um momento dado, findos os preparos os Encomendadores das Almas desciam lentos de sua soturna estância; e, rompendo a marcha, a campanhia vibrava metálica, a matraca batia, a procissão desfilava, tétrica, pavorosa e de fazer arrepiar os cabelos.
                    Constava da tradição que só homens podiam tomar parte nessas romarias em favor dos condenados de além-túmulo; sendo proibido, sob pena de morrerem assombradas, as mulheres e crianças, afrontar o preceito lendário.
                     E a Serenata da morte, escoltada de supertições e de duendes, começava os seu noturnos as suas Capelas cantadas, prolongando-se até mais de uma hora, fazendo estações aqui e ali, difundindo o pavor e o medo em seu trânsito incerto e cheio de assombro.
                    Adiante, vagaroso, cadenciado, de cabeça erguida, o portador da Cruz das Almas seguia imperturbável, entre dois indivíduos cabisbaixos, envergando idênticas vestiduras e amparando as luzes das velas metidas em cartuchos de papel: logo após o homem da campainha, tangendo-a compassadamente, sacudia ao vento a manga ondulante de sua túnica de morim, que recebia nas trevas o reflexo rubro das lanternas acesas...
                   E a procissão passava!... passava!...
                   Sendo da crença popular que ninguém podia abrir as janelas e as portas para ver a tétrica Passeata, pois que além de cometer gravíssimo pecado, morria de medo, visto como as almas faziam parte da comitiva, a solidão estendia-se em seu trânsito e circulava o ambiente envolto em trevas medrosas e profundas.
                   Aos fantásticos personagens que iniciavam o préstito, sucedia um outro que entoava com voz cavernosa, lúgubre e com que saída de um túmulo, as Lamentações do estilo, admiráveis trechos musicais dos Compositores da terra.
                   Depois vinha o resto – os devotos menestréis das almas, envoltos em suas roupagens de neve, com buracos para os olhos e a boca.
                   E a matraca, batida, troava... a campa, agitada com violência, formava uma abòbada funebremente sonora 
                   De escutá-las as crianças e as mulheres, os moradores das casas vizinhas e longínquas, despertavam: ouvia-se choro, preces, rumores...
                   E a procissão passava!... passava!...
                   Eis senão quando a matraca e a sineta emudeciam, os tropéis aquietavam-se, e o silêncio crescia mais taciturno e misterioso...
                   Um vulto tomava a frente; no mesmo instante, os instrumentos davam afinação tocavam á surdina; e o violoncelo, por exemplo começando a Capela noturna, gemia sob os dedos inspirados do artista, soluçava dolorosamente, produzindo sons despedaçadores.
                   E aquela espécie de alma penada, aquele indivíduo isolado dos seus companheiros – o Baixo-Profundo - , entoava silábica e monotonamente a cruel e pavorosa Lamentação:
                   “Pe-ca-dor-em-du-re-ci-do!!...”
                    A impressão que isto produzia era horrível; não pode imaginar o efeito sobrenatural dessas composições especiais sobre espíritos fracos e de credulidade exagerada.
                    Depois os demais músicos acercavam-se da figura principal e, seguindo, bradava um Cantor:
                    “Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos presos da cadeia!...”
                    E todos rezavam cantando, na persuasão de que os ouvintes, encerrados em suas casas, o faziam também.
                    “Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos afogados!...”, prosseguia um outro, apenas terminava a reza, e assim por diante...
                    Em caminho, sucedia reunirem-se a estes, penitentes que surdiam daqui e dacolá, vestidos de saias de mulher, coroados de espinhos e com as costas nuas, sobre a quais faziam vibrar férreas disciplinas, acoitando-se á sangue.
                    E a procissão passava!... passava!...
                    Junto a um oratório aceso ou Cruzes de Almas, o préstito fazia alto, espevitavam-se as velas das lanternas esbraseadas, e as Lamentações, os Padre-Nossos, Ave Marias e Salve-Rainhas eram de novo cantados, em tons fúnebres e pesados com o estouro das vagas nas praias desertas.
                    Este espetáculo terrível, que impedia de respirar livremente, que povoava de sobressalto e terrores os sonhos infantis e a crendice popular, findava sempre aos primeiros cantos do galo...(...). 
(Melo Morais Filho, FESTAS E TRADIÇÕES POPULARES DO BRASIL, pags. 193 a 197, Rio de Janeiro-1946).



AFOXÉ - O primeiro Grupo de Afoxé surgiu em 1895 em Salvador, mostrou publicamente aspectos dos ritos do Candomblé. Em 1897, outro grupo saiu as ruas com o Enredo “As Cortes de Oxalá”. Em 1922 já estruturado e participando do Carnaval, veio a temática dos Orixás, encontramos então o Afoxé Papai da Folia. Ainda em 1897 “Clube Pândegas de Àfrica” e os africanos com muita alegria dançando, tocando e cantando tomaram conta das ruas e assim externou, os clubes vistosamente se apresentavam, recolhendo aplausos e saudações dos seus adeptos numerosos. A Embaixada Africana e os Pândegos de África, já apreciados do nosso público, porquanto desde uns três anos disputavam-se a palma nessas festas. Depois só voltaram a sair em 1929 e o jornal A Tarde, de 9 de fevereiro daquele ano relata a sua volta: ”Abrira o préstito uma grande filarmônica trajada a caráter exercitando seus clarins e fanfarras as mais típicas marchas Africanas”. Outros grupos de Afoxé, como Otum Oba de África, Congo de África mantiveram a força dos costumes lúdicos negro-africanos na Bahia. No Rio de Janeiro, aos 12 de agosto de 1951 é instalado o Afoxé Filhos de Gandhi/RJ. Esta agremiação está baseada na vivência dos seus fundadores em outros grupos de Afoxés: Pândegos de África, Otum Obá de África, Papai da Folia, Congo de África e o próprio Filhos de Gandhi de Salvador deram os subsídios e os fundamentos do grupo carioca, que representa no Carnaval do Rio de Janeiro as mais significativas lembranças dos costumes Afro-Baianos. Afoxé Olodumaré, surgiu no interior do Terreiro Nosso Senhor do Bonfim, verdadeira sede do Afoxé. Sai no domingo, segunda e terça-feira. Segunda-feira dia consagrado a Exu. Ele é o patrono deste Afoxé. Afoxé no Ceará ligado aos Maracatu Reis de Paus e ao terreiro de Candomblé Nosso Senhor Do Bonfim, ritos Gêge e Nagô. Filhos de Gandhi, Salvador e Rio de Janeiro: há diferenças acentuadas observadas nesses dois grupos de Afoxé. Cada um passou assumir uma personalidade própria apesar dos fortes elos que unem ambos Afoxés. O de Salvador, o patrono é Xangô por isso dança com uma frigideira em chamas apoiada na cabeça ao toque de Alujá. Foi fundado em 1949. O Gandhi do Rio, o Gexá é ouvido. Cantam para os Orixás. Desfilam no sábado.Um outro Afoxé surgiu há 30 anos em São Paulo fundado pelo Ogan Gilberto de Esú e Iá Wanda e amigos ligados a família, é o Afoxé Omo Coroa de Dada, Casa Verde, São Paulo, e no Carnaval de 1977 fez sua 1ª apresentação no Carnaval nas ruas do bairro, hoje faz a abertura oficial do Carnaval Paulista e está há 26 anos no Sambódromo. Hoje em dia encontramos um grande número de Afoxés que divulgam e resgatam a cultura Afro-Brasileira, abrilhantando os Carnavais de diversas cidades com muita alegria e energia positiva, preservando assim a Cultura Afro-Brasileira. 
O QUE É AFOXE ?- Afoxé é um Cortejo de rua que tradicionalmente sai nas ruas durante o Carnaval de Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo e demais localidades. Esta manifestação tem aspecto místico, mágico e por conseguinte, religioso. Em 1895, em Salvador o primeiro Afoxé mostrou publicamente aspectos dos ritos do Candomblé. Antes se falava no Maracatu, não existia o Afoxé propriamente dito, e o Cortejo era chamado de Afoxé de África. Por isso também é conhecido e era chamado por Candomblé de rua, hoje se fala em Afoxé: grupo Afro-Brasileiro Folclórico cultural, carnavalesco de origem afro-descendente (Africana) oriundo do Candomblé no Brasil. Apresenta em seu contexto elementos ligados a religiosidade dos africanos aqui no Brasil. Para estes adeptos é quase uma obrigação levar este Axé (energia positiva) para o conhecimento do público e para locais onde desenvolve-se a Cultura com ou sem vínculo com a religiosidade. Os enredos têm fundamentos das religiões negras no Brasil, enredos esses vindos das estórias, explicam e instruem sobre os Orixás, seus domínios e funções.Todo grupo de Afoxé tem suas cores e patronos. Os instrumentos básicos do Afoxé são: Xequerês, Maracás, Atabaques e Agogôs, todos tocados no ritmo Ijexá. Afoxé também é o nome de um instrumento que se constitui de uma cabaça (fruto vegetal) coberta por rede contendo sementes ou contas. Os instrumentos mais antigos eram feitos com redes de algodão, contendo búzios nos encontros do traçado. O Afoxé passou por modificações, quanto a forma do instrumento e maneira de percutir. Tradicionalmente o Afoxé é percutido agitando o que fricciona no corpo da cabaça, assim produzindo os ritmos. Com o advento do cabo preso na cabaça, a fricção passou a ser realizada na palma da mão do instrumentista. Além da festividade carnavalesca, o Afoxé tem o compromisso de resgatar e divulgar a Cultura Afro-Brasileira, levando á comunidade informações culturais e a oportunidade de conhecer suas raízes. 
OBJETIVOS DO AFOXÉ - O Objetivo do Afoxé é levar o Asè (Energia Positiva) para o conhecimento do público e para locais onde se desenvolve a Cultura com ou sem vínculo com a religiosidade. O Afoxé Niza Nganga Njungo de Juiz de Fora - MG, possui um Grupo Gestor independente e soberano, formado por pessoas idôneas e radicadas em nossa cidade, cuja função prioritária é dar vida e consistência às atividades culturais, visando a convivência e conscientização comunitária, buscando diminuir a exclusão sócio cultural através de palestras, oficinas arte educativas, ensaios e apresentações públicas integrando todos membros da comunidade. A colaboração com a Cultura vai além de sua existência como Bloco. Desta forma articulamos ao longo do ano, palestras, oficinas, apresentações e rodas de bate papo para levarmos mais informações da Cultura Afro (Afoxé) à Sociedade. 
(Jaques “Tata Axexerê”, AFOXÉ NIZA NGANG NJUNGO, Juiz de Fora – MG.).


AFOXÉ – Rancho negro do carnaval. Os negros se trajam principescamente e cantam Canções em língua africana, geralmente em Nagô. O mais notável desses Ranchos é o Otum, Obá de África, com sede no Garcia. Têrmo ás vêzes empregado para designar Candomblés de qualidade inferior.(Edison Carneiro, CANDOMBLES DA BAHIA, 115-116, Bahia, 1948). 
Festas profanas de caráter público, nos Terreiros do culto Jeje-Nagô. 
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pags.17, Rio de Janeiro – l954).



imagem da internet
Carybé







SAMBA-CHULA – No Samba de Roda, existem muitas variações sobre as Cantigas, que possuem nomes diferentes a depender do local. Na Ilha, em Salvador e municípios próximos, predomina o Samba Corrido, e as influências urbanas. O Samba Chula característico, também chamado Samba de Viola e Samba Amarrado, se encontra na antiga região da cana que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo Amaro. Uma dupla de cantadores canta a Chula e a outra dupla e o coro das mulheres responde com o Relativo, sendo um verso menor que “arremata” a Chula. Nessa hora, ninguém entra na roda para sambar, esperando os homens terminar de cantar e começar a parte instrumental com solos de viola e da percussão. A sambadeira agora samba com passos miudinhos, “peneirando” e percorrendo a roda toda, até dar uma umbigada para outra sambadeira, que espera até a próxima Chula cantada.
                     As Chulas são miniaturas poéticas que tratam dos assuntos da vida, contando pequenas histórias, relatando conflitos e as complicações da paixão, retratando aspectos do cotidiano e dando conselhos, alertas e “sotaques” para quem precisa ouvir. Os grandes temas cantados são ligados ao universo amoroso, ressaltando a visão do homem sobre a mulher, falam do próprio Samba, dos acontecimentos na roda e da viola, por estabelecer uma ligação forte entre os homens tocando e as mulheres sambando. Muitas Chulas retratam a vida do trabalho, na roça, na cana, no mar e no mangue, ás vezes com uma conotação do sofrimento do “penar” que remete aos tempos da escravatura. Um contraste para o lado pesado da vida, são as Chulas lúdicas e eróticas, contando piadas e conselhos irônicos, pequenas parábolas, satirizando situações sensuais e tragicômicas da vida. Outro aspecto é a vida religiosa nas Chulas que cantam dos santos católicos, dos orixás e caboclos nas religiões afro-brasileiras, muitas vezes falando em metáforas.
                     Na outra margem do Rio Paraguaçu, nos municípios de Antonio Cardoso, Santo Estevão e Rafael Jambeiro, a Chula é chamada de Coco e o Corrido chamado de Chula. O Samba se caracteriza por ser um Samba de Desafio, cheio de riquezas poéticas que retratam o universo regional com sutileza, humor e variedade literária. Entre os sambadores antigos, Samba é coisa séria, assunto de homens brabos que se desafiam com palavras afiadas e ritmadas, levando noites inteiras nessas disputas que renderam muitas lendas em toda região. 

(Katharina Döring, “A CHULA NO SAMBA DO RECÕNCAVO”, notas da contra-capa do CD e DVD, CANTADOR DE CHULA, Salvador – 2009). 

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